terça-feira, 7 de outubro de 2008

Eu queria morrer um pouquinho...

A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção de acordar viva todo dia
Há dores que sinceramente eu não resolvosinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo
e me torno moribundo de doer daquele corte
do haver sangramento e forte
que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
dentro das perdas de coisas antes possuídas
dentro das alegrias havidas
Há porradas que não tem saída
há um monte de "não era isso que eu queria"
Outro dia, acabei de morrer
depois de uma crise sobre o existencialismo
3º mundo, ideologia e inflação...
E quando penso que nãome vejo ressurgida no banheiro
feito punheteiro de chuveiro
Sem cor, sem fala
nem informática nem cabala
eu era uma espécie de Lázara
poeta ressucitada
passaporte sem mala
com destino de nada!
A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
ensaiar mil vezes a séria despedida
a morte real do gastamento do corpo
a coisa mal resolvida
daquela morte florida
cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos
cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos
que já to ficando especialista em renascimento
Hoje, praticamente, eu morro quando quero:
às vezes só porque não foi um bom desfecho
ou porque eu não concordo
Ou uma bela puxada no tapete
ou porque eu mesma me enrolo
Não dá outra: tiro o chinelo...
E dou uma morrida!
Não atendo telefone, campainha...
Fico aí camisolenta em estado de éter
nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!
Tô nocauteada, tô morrida!
Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa
não tem aquela ansiedade para entrar em cena
É uma espécie de venda
uma espécie de encomenda que a gente faz
pra ter depois ter um produto com maior resistência
onde a gente se recolhe (e quem não assume nega)
e fica feito a justiça: cega
Depois acorda bela corta os cabelos
muda a maquiagem
reinventa modelos
reencontra os amigos que fazem a velha e merecida
pergunta ao teu eu: "Onde cê tava? Tava sumida, morreu?"
E a gente com aquela cara de fantasma moderno,
de ex persona falida:
- Não, tava só deprimida.
(Elisa Lucinda)

2 comentários:

tristelembrança disse...

Kerido:)

Hoje na Misspig, tô lá esperando!

Te amooo, bjao!

tristelembrança disse...

Pôxa, você não apareceu na sexta! Quando estava voltavando para casa, 3 da manhã, pensei no Pico do Ana Moura, na Primavera, na Alvorada e no nosso povo simples e tão legal. Eu sei que não nos restou outra opção.... tomar o ônibus e tentar a vida aqui, ou achar um bom emprego na Acesita. Difícil....
Sempre penso nas nossas grandes afinidades nossas, que vão desde essa quantidade grande de café ao fato se sermos caçulas, de termos tido que ficar dentro do armário, mas eu sempre mais recatado e você galanteador, conquistador, cínico, etc. Talvez se apenas me tivesse você seria mais feliz, pois sempre me assustou muito, essa sua diversidade zoológica. Fez, acabou!
Não tenho lido muito Machado nem Fernando Pessoa por falta de estímulo e ainda lembro você emocionado, meu irmortal evanescente!
Hoje vou ao nosso Pub, sei que talvez vc não vai aparecer lá.... sou mesmo um idiota por gostar de você. E o pior, sabe que sou eu e finge que não sabe! Eu não sou mais um dos seus meninos conquistados por suas gentis palavras e abandonados após o coito, descartáveis como uma seringa, sou seu amor, seu companheiro, aquele que sempre te colocou para cima!
Hoje estarei lá no nosso cafofo, no nosso pub, na nossa mesa, pronto para tomar um vinhozinho com você e tentar fingir que sempre estará somente comigo. Bjão! Talvez seja masoquista mesmo! Meu Don Juan! Seu Jr.!:):):):)